segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Irá conhecer uma linda criatura no baile esta noite…………. Mas não vá se apaixonar.

(trecho do livro Os sofrimentos do Jovem Werther de Goethe)

Mas não vá se apaixonar............. mas não vá se apaixonar. Creio que este seja o conselho que mais escutamos ao longo da vida. Falo aqui não só de paixões por pessoas, tal como em relacionamentos amorosos, falo de paixões por pessoas, atitudes, idéias, objetos, arte, enfim... vida. Nossas ilusões de controle, nossa fantasia de onipotência, nosso sonho de auto-suficiência, fazem com que a paixão seja de fato algo temido, evitado, indesejado. Precisamos ser senhores de nosso destino, nada pode nos escapar e não podemos nunca demonstrar fraquezas, nem para nós nem para o resto do mundo. Tudo deve seguir seu devido curso e imprevistos são sempre malvistos. Agir por paixão? Por desejo? Por um “simples” querer?? Ora por Deus, isto não nos ‘e permitido, como poderíamos abandonar nossa tão querida racionalidade, nossas absolutas certezas para agir por paixão?? Como poderíamos abandonar nossas preciosas vidas.....para viver?

Talvez tenhamos coragem de,assim como Werther, perguntar “Por quê?”. Neste ponto as razões são inúmeras, mas todas elas poderiam ser condensadas em: “Porque você irá sofrer”. Ora todas as nossas tentativas de racionalizar e controlar a vida tem por finalidade exatamente não sofrer, e nós não podemos sofrer! Nunca, de maneira nenhuma a nossa vida não pode dar errado, nossa vida não pode sair do controle, nossa vida não pode ser............ vivida.

Mas não vá se apaixonar, não vá sofrer. Nos dirão os mais sábios, os mais sensatos. É bem verdade que podemos sofrer, é bem verdade que perderemos o nosso falso controle, é bem verdade que nos tornaremos mais vulneráveis, é em verdade que não seremos racionais.... mas e daí? Viver implica riscos de sofrimentos, decepções, dúvidas, angustias, tanto quanto de felicidades, alegrias, conquistas..... viver é por excelência um não-saber, um descobrir, um conhecer e isto nada tem de garantido, de certo. Felicidade não é um lugar a ser alcançado, é antes de tudo um caminho à ser percorrido... ou melhor ainda construído e reconstruído a cada instante. E obviamente, isso implica riscos. Ter medo de sofrer é temer a própria vida.

Ora, pro inferno com essa maldita serenidade, será que não podemos ser um pouco mais afirmativos em ações e sentimentos, será que não podemos assumir riscos, gozar, sofrer, viver? A vida não nos oferece segurança e este é seu maior defeito e melhor qualidade, a insegurança e a imprevisibilidade é nossa benção maldição, toda a beleza de existir esta contida em nossa capacidade de conhecer de e nos surpreender, conosco, com os outros, com as coisas. Até quando tentaremos nos convencer de que é melhor viver com uma sensação segurança do que viver com intensidade? A vida só vale a pena se vivida intensamente.... se vivida com paixão.

Aqueles que conhecem a história dirão: “Mas Werther morreu por essa paixão!” e é bem verdade, Werther morreu por Charlotte pelo amor por Charlotte, morreu por uma vida que só vale se for vivida intensamente. Nós, morremos todos os dias por temer essa mesma vida, morremos por medo..... morremos por nada.

3 comentários:

Anônimo disse...

boa, boa...muito boa

Anônimo disse...

É engraçado como se prega uma "racionalidade fantasiosa". Todo mundo pensa que todo mundo age pela razão pura e simples quando, em verdade, homens e mulheres são movidos pela paixão pura e simples ou com uma roupagem vagabunda de razão.
Se os homens agissem pela razão, lúcida e genuinamente pura e simples, o mundo seria melhor - talvez naquele estilo mais "Alice no país das Maravilhas".
Isto significa que se busca uma ação do comportamento cuja motivação seja a paixão e, na verdade, isso já acontece. O que parece é que se quer uma paixão mais extravagente, à beira da loucura.

Sofia de Moria disse...

Senhor Anônimo, agradeço o comentário ,mas não sei se me fiz suficientemente clara. Em primeiro lugar eu nunca disse que os homens não agem por paixão (seria tolice negar tal fato) só disse que eu vejo (e posso estar absurdamente errada, normalmente estou) um certo de sejo de não agir passionalmente, um certo desejo de controlar todas as possibilidades da vida. Concordo com você quando diz que os homens não agem por pura razão, porém discordo quando diz que agem por pura paixão (não gosto de extremismos, estou velha demais pra isso). Mas penso que cada vez mais nós desvalorizamos a paixão em favor do racional, do certo, do seguro.
O senhor diz que se os homesns agissem pela razão lúcida e pura o mundo seria melhor.... bem.... creio que para a "ordem e progresso" (lema tipicamente positivista e racional) seria realmente melhor....... agora para os homens.... eu tenho lá minhas dúvidas.

E quanto a uma paixão extravagente à beira da loucura....... acho ótimo!