quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Experimentando a cegueira

Já imaginou de repente o mundo inteiro ficar branco, amarelo, cinza, azul, preto, lilás. sei lá. sem contraste. sem forma. sem rumo. sem um sentido apreensível pela visão.
Bem, se você é capaz de ler bem o que escrevo agora é provável que nunca tenha temido isso. e se temeu é porque tem imaginação fértil ou é meio paranóico ou hipocondríaco, sei lá...

Mas é exatamente próximo disso a sensação do 'Ensaio sobre a cegueira'... claro que com exageros a parte, criticas também dos que leram o livro. ficando claro que não o li.

E que os defensores dos deficientes não se sintam moralmente atingidos.

Mas é muito angustiante estar entregue a cegueira. ao não ver a mão que te guia, o caminho do próximo passo.

Fecha os olhos. imagina isso pra sempre. é...Estranho

O olhar nos deixa seguro de tanta coisa, não?
Parece até que vemos todos e cada passo, será que vemos?
Será que vemos pra onde a humanidade, o planeta, o homem, nós mesmos estamos indo?

É a pergunta que me fiz quando vi o filme.
Essa e milhares de outras...

Será que quando tudo parece desordenado e inseguro nos agarramos a primeira mão que oferece terra firme?

Nesse momento me lembro do caso da Alemanha nazista, onde todos vivendo miseravelmente ansiavam por um porto seguro e abraçaram a hitler e seu regime totalitário e Facínora e Facista, assim como outros casos, menos brutais em quantidade mas não menos violento em torturas e prisões, como visto nas ditaduras pelo Mundo.

Eu me assustei em especial ao ver o filme, pois eu me senti muito próximo. Obviamente, não de uma epidemia catastrófica ou tão pouco de um regime fascista as claras, mas de um planeta onde as pessoas não enxerguem o Outro.
Vivendo em um certo fascismo não nomeado. Pois o ditador dessa vez está dentro de nós e não visivelmente simbolizável em um sujeito de bigode e penteado exótico. O nome dele é EGO. E Por ele matamos e morremos.

Então, tão ocupados em garantir uma sobrevivência medíocre e com pouquíssimos valores INDIVIDUAIS (Dinheiro, dinheiro, fama, poder e dinheiro) que muitas vezes esquecemos que existam coisas tão extraordinárias como sentir paixão, afeto, carinho, pela pessoa que está exatamente ao nosso lado.
Compartilhar alegrias, angustias, prazeres, belezas que só existem se houver esse Outro. Alias, ouso dizer, caríssimo, que só existe você se existirem os outros, ou seja, há Ego se houver Outro. há Existência se houver Diferenças!

E ai entra a angustia da personagem que é a única que enxerga no meio de todos os cegos.
A solidão. ter um poder que é grande mas que pouco adianta, pois a realidade se torna outra, se torna a dos que não enxergam, logo o 'ver' dela, significava um isolamento absurdo muito mais do que um exclusivismo. Muito mais [e pior] que um Egoísmo.

Estranho. te digo, sensações bem assustadoras e estranhas experienciar o entrar no filme. Achar que aquelas relações assustadoras são possíveis.

Mas não menos importante para estar pensando nessas questões tão pouco 'visíveis' no nosso dia-a-dia. sobre o mundo que criamos e estamos criando em nossas relações com os Outros...

Então Grito:
Re-Estranhemos. Re-Pensemos. Re-Abracemos. Re-Sorriamos. Re-Apaixonemos. Re-Vivamos!

E que a nem a cegueira, nem falta de tato, nem de audição, nem de paladar... nos fujam pra sempre...

nem tão pouco a capacidade de sentir.

Nenhum comentário: