Sem hora marcada ela apareceu na minha porta, feito assombração irrompeu sala adentro preenchendo o ar com seu perfume. Era difícil encará-la avivava memórias que eu me esforçara a esquecer, respirei o mais fundo que podia e a olhei nos olhos e para o meu azar vi o mesmo sorriso que me conquistou anos atrás.
Como ela era capaz de manter depois de tantos anos o mesmo sorriso juvenil, o mesmo frescor? O tempo ao foi tão bom comigo, minhas feições denunciavam os anos, aos meus sonhos somaram-se rugas, meus devaneios perderam aos poucos a coragem, o fervor, sorria com os poucos dentes que lhe restavam.
O que ela queria de mim? Seja lá o que fosse eu estava disposta a dar-lhe tudo, daria tudo para que ela saísse dali, da minha sala, da minha vida. Ela abriu os braços esperou um abraço que não veio.
- Não mereço um abraço?
- O que quer?
- Que me responda uma pergunta.
- Certo. Então pergunte, seja breve estou esperando companhia.
- Sério? Uma Garota nova?
- Era isso que queria perguntar, se estou saindo com alguém, que importância isso poderia ter pra você agora?
- Não é isso que quero saber.
- Então o que?
- Queria te perguntar se você lembra o nome daquela música que costumávamos cantar?
- Ãhm? Música?
- Sim, aquela música, cantávamos sempre, não lembra? Sempre que saíamos ela tocava, não importa onde íamos, ela sempre tocava e quando não tocava nós enchíamos o saco dos DJS para que ele tocasse... Não consigo me lembrar do nome.
SORRI.
- Você nunca lembrava do nome.
- Eu sei, por isso vim te perguntar.
- Eu também não me lembro, bebia muito naquela época, eu não lembro de muita coisa.
- Uma pena.
- O que?
- Uma pena que você não se lembre.
- Bom, você também não lembra então estamos quites.
- Isso quer dizer que você realmente me esqueceu?
- Eu não te esqueci...
- Mas não lembra da música...
- É, não lembro da música, mas me lembro muito bem de você ter me trocado por um cara qualquer e sumido...
- Você não muda não é? Sempre se apega as coisas ruins e não lembra das partes boas...
- Olha já esta tarde, se era só isso que você queria eu não posso te ajudar, me dá licença que eu...
- Vai se encontrar com a menina da vez...?
- Não é a menina da vez, é A menina...
- Achei que eu fosse A menina...
- Não se superestime, ok?
- Mas foi você que me disse, disse que ia me amar...
- Cala a boca! Não ouse terminar a frase. Não importa o que eu disse antes, simplesmente não importa...
- Ok... Ainda me odeia?
-Não perderia meu tempo t odiando.
UMA LÁGRIMA.
- Então é isso, acho que vou indo...
- Vá.
- ...
- E não volte!
Ela recolheu seu sorriso, prendeu o cabelo em um coque, eu recolhi minha mágoa e antes que ela fechasse a porta atrás de si eu disse: “Caso sério”.
- Ãhm?
- O nome dá música... Era caso sério.
- Sim, era este o nome, obrigada, não esqueço mais.
E saiu cantarolando
“ você e eu somos um caso sério, refrão de um bolero, dose dupla, Românticos em cuba-libre...”
domingo, 6 de fevereiro de 2011
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Um comentário:
Olha, não tenho o que dizer... Sinceramente. Parabéns...
Beijo.
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