domingo, 6 de fevereiro de 2011

CASO SÉRIO

Sem hora marcada ela apareceu na minha porta, feito assombração irrompeu sala adentro preenchendo o ar com seu perfume. Era difícil encará-la avivava memórias que eu me esforçara a esquecer, respirei o mais fundo que podia e a olhei nos olhos e para o meu azar vi o mesmo sorriso que me conquistou anos atrás.

Como ela era capaz de manter depois de tantos anos o mesmo sorriso juvenil, o mesmo frescor? O tempo ao foi tão bom comigo, minhas feições denunciavam os anos, aos meus sonhos somaram-se rugas, meus devaneios perderam aos poucos a coragem, o fervor, sorria com os poucos dentes que lhe restavam.
O que ela queria de mim? Seja lá o que fosse eu estava disposta a dar-lhe tudo, daria tudo para que ela saísse dali, da minha sala, da minha vida. Ela abriu os braços esperou um abraço que não veio.

- Não mereço um abraço?

- O que quer?

- Que me responda uma pergunta.

- Certo. Então pergunte, seja breve estou esperando companhia.

- Sério? Uma Garota nova?

- Era isso que queria perguntar, se estou saindo com alguém, que importância isso poderia ter pra você agora?

- Não é isso que quero saber.

- Então o que?

- Queria te perguntar se você lembra o nome daquela música que costumávamos cantar?

- Ãhm? Música?

- Sim, aquela música, cantávamos sempre, não lembra? Sempre que saíamos ela tocava, não importa onde íamos, ela sempre tocava e quando não tocava nós enchíamos o saco dos DJS para que ele tocasse... Não consigo me lembrar do nome.

SORRI.

- Você nunca lembrava do nome.

- Eu sei, por isso vim te perguntar.

- Eu também não me lembro, bebia muito naquela época, eu não lembro de muita coisa.

- Uma pena.

- O que?

- Uma pena que você não se lembre.

- Bom, você também não lembra então estamos quites.

- Isso quer dizer que você realmente me esqueceu?

- Eu não te esqueci...

- Mas não lembra da música...

- É, não lembro da música, mas me lembro muito bem de você ter me trocado por um cara qualquer e sumido...

- Você não muda não é? Sempre se apega as coisas ruins e não lembra das partes boas...

- Olha já esta tarde, se era só isso que você queria eu não posso te ajudar, me dá licença que eu...

- Vai se encontrar com a menina da vez...?

- Não é a menina da vez, é A menina...

- Achei que eu fosse A menina...

- Não se superestime, ok?

- Mas foi você que me disse, disse que ia me amar...

- Cala a boca! Não ouse terminar a frase. Não importa o que eu disse antes, simplesmente não importa...

- Ok... Ainda me odeia?

-Não perderia meu tempo t odiando.

UMA LÁGRIMA.

- Então é isso, acho que vou indo...

- Vá.

- ...

- E não volte!

Ela recolheu seu sorriso, prendeu o cabelo em um coque, eu recolhi minha mágoa e antes que ela fechasse a porta atrás de si eu disse: “Caso sério”.

- Ãhm?

- O nome dá música... Era caso sério.

- Sim, era este o nome, obrigada, não esqueço mais.

E saiu cantarolando

“ você e eu somos um caso sério, refrão de um bolero, dose dupla, Românticos em cuba-libre...”

Um comentário:

Edson Gama disse...

Olha, não tenho o que dizer... Sinceramente. Parabéns...
Beijo.