terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Era uma vez...

...fui visitar minha avó e voltei para casa de ônibus, banal não? Em todo caso eu acredito que são das situações banais que surgem as maiores revoluções (em mim ao menos...).

Visita corriqueira, entrei, lanchei, saí, fui recebida com lágrimas e a na saída fui brindada com benções.

Havia uns cinco anos que não via a velha, fomos visita-la apenas para apresentar meu sobrinho a ela, ao ver a linda-família-estruturada-comercial-de-margarina da minha irmã, a matriarca resolveu se dirigir a mim e perguntar: “e você minha filha quando vai casar e me dar mais um bisnetinho ?”

O que se seguiu foi uma série de desculpas pré-programadas para situações como estas, para intromissões familiares, “blá blá blá... tenho que terminar a faculdade, nhé nhé nhé... tenho muita vida para viver antes de casar...”.

Eu poderia ter dito simplesmente a verdade, dizer que apesar de estar em um relacionamento estável acerca de sete meses, dificilmente me casaria, (ao menos não nas concepções católicas da minha avó) e que seria praticamente impossível para mim dar a ela mais um bisneto, por um motivo simples, porque sou homossexual.

A justificativa excusa veio a minha mente espontaneamente como se fosse fruto de dias de reflexão, mas não foi por outra coisa que não respeito (confesso que no momento ainda irrefletido) que não ofereci a mãe do meu pai, a pureza da verdade.

Respeito à sua idade, a sua geração, aos seus convencionalismos, foi por respeito as suas verdades que não expuz a minha verdade, reconheci que derrepente esta de certa maneira poderia agredi-la.

Como não havia porque querer isto, me calei, não iria ganhar muita coisa com o embate, com a relação belicosa das verdades...

E derrepente cai em mim...

Eu que guiada pelos livros da minha estante a tempos gritava que os encontros, que os esbarrões, que o desconcerto, que a dúvida instaurada pelo esboreamento de uma verdade suposta universal era a força motriz de mudanças, a própria revolução, molar ou molecular, o ínicio era dúvida, não a dúvida que mata, que mortifica a verdade do outro, mas dúvida que multiplica.

Não era o caso. Preferi não revolucionar. Por sentimentalismo talvez, como respeito, como havia dito antes, senti que apontava facas para os meus queridos livros da estante, que lacerava os meus franceses barbudos.

Opa...será que fui corrompida pela loucura paradoxal da classe média? Certamente e sem sombra de dúvida não há como afirmar que tenho certeza de nada.

Disso eu estou certa!

Nenhum comentário: